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  • Foto do escritorProjeto Madre Teresa

Por nada eu te deixaria, por nada eu te trocaria


No decorrer dos últimos dias, ouvindo a canção “Convívio dos eleitos”, resolvi escrever o post da semana. Na verdade, sempre que a ouço, logo imagino e contemplo o mar do abismo do Senhor que me separa dele, mas vivo ainda mais o grandioso e tão próximo abismo de sua misericórdia, que se estende a mim e a cada um de nós todos os dias. Abismo do seu profundíssimo amor, que nos constrange e nos eleva. Centelhas de amor que se manifestam e transformam tudo o que há em nós.


Na postura de Tomé, é o homem da modernidade que faz a experiência de dizer, ousada e humildemente, “Meu Senhor e meu Deus!”


De início, gostaria de destacar a frase escolhida como título. Observemos com mais atenção. Com ela, perguntamo-nos: será que estamos dispostos a tudo trocar pelo Senhor? Será que estamos dispostos a fazer a bendita escolha? Sob uma observação pouco vasta, logo enxergaremos com o olhar daqueles que enchem o peito de coragem para dizer: “Sim, eu me decido!”


Façamos uma pequena analogia até que vejamos com mais clareza. Imaginemos um coração de pedra, envolto de engrenagens de ferro, repleto de ferramentas inalcançáveis. Agora, comparemo-lo a um coração que pulsa no compasso da circulação sanguínea do corpo humano. Cognitivamente, você sente a diferença? Sente que é possível canalizar uma válvula ao coração de carne, aquela que, uma vez ligada (se é que seria possível) ao coração endurecido, nada consegue fazer circular? Guardemos a comparação.


Agora, um pequeníssimo exercício interior. Com qual frequência temos encarado as exigências do seguimento compromissado a Jesus? Tantas são as vezes que nos deparamos com as nossas verdades, e tentando driblá-las, contornamos a decisão pelo Senhor na vida ordinária. Na verdade, com verdade mesmo, mascaramos a nós mesmos. Perdemos o mínimo de dignidade quando não conseguimos ser honestos conosco mesmo, e daí em diante, com o Senhor é que não retribuímos honestidade também.


A chave da questão é a seguinte:


Basta um olhar sincero, encorajado e confiante para dizer que trocaríamos tudo pelo Senhor. Não tenho a menor pretensão de dizer que é um caminho repentino e que, num estalar de dedos, conseguiremos aderir à tal decisão. Não... muito mais do que isso, tenho de dizer que decidir optar por algo requer imaginar não somente o tempo presente, mas as circunstâncias futuras também. Não se escolhe algo – uma escolha contínua e/ou definitiva – sem antes assumir um posto racional, aquele que nos é dado em nossa natureza humana. Quando escolhemos algo, certamente entramos, conscientemente, no mistério da projeção dos tempos que estão por vir. Quando não acontece esse tipo de movimento, é sinal de que a mentalidade do hoje, do agora, do imediatismo, do corriqueiro, do passageiro, nos tomou parte.


Quem se decide por algo, decide na consciência de não conseguir viver sem aquele elemento. Para nós, basta que encaremos o tal elemento como vital, vitalício e todos os outros derivados da palavra vida para que cheguemos à conclusão da Vida que nos cerca, nos toma e nos apaixona todos os dias.


É preciso podar os galhos que já não mais fazem crescer a árvore, e podar com zelo: deixar que o Agricultor nos molde e nos configure a si mesmo. Quanta paz traz o descanso daqueles que se deixam nas mãos do Construtor...


Tudo isto para lembrarmos que o caminho da escolha é um caminho de reconhecimento de si também. Enquanto não estivermos atentos e voltar o nosso olhar para o interior, a fim de perguntar o que ainda preferimos que não seja Ele, então estamos pouco situados no conhecimento do que é consciência e honestidade. Quer admitamos ou não, esconder as nossas misérias e viver sem ter consciência do Outro faz mesmo o caminho ser muito mais pesaroso e difícil.


O homem da modernidade ainda consegue amar de verdade?

É preciso desejarmos fazer a experiência de um novo Êxodo. Um lugar de saída para um lugar em quem repousar. Não é um desencontro ou sinônimo de perdição, mas a perfeita sincronia dos olhares que, entrelaçados, se entusiasmam com a beleza do Vivente. A perplexidade mais encontrada revela-se num encontro com esse Outro. Sem romantizações excessivas, mas um olhar que cruza o outro e enlaça o fio da inconstância com a Perfeita coerência.


Não uma troca simbólica, que é permeada daquele dia que conhecemos o amor e a misericórdia, mas uma troca cotidiana. Idealizarmos uma relação com o Senhor sem antes torná-la próxima e prática é o mesmo que tomarmos atitudes sem o mínimo de racionalidade necessária. O resultado é, então, um pensamento pouco consciente de alguém que vê Deus como (tão somente) um elemento divino.


Diante das cegueiras que enfrentamos, resta-nos optarmos pelo exercício do olhar apaixonante e necessitado, que se coloca aos pés do Amado como um suplicante. Não 'resta-nos' como sinônimo de última opção, não. Mas uma verbalização mais inteligível e plasmada de verdade interior.


Se não acolhermos esta condição, cairemos num profundo abismo de achar que sozinhos damos conta de tudo. É aqui que faço voltar a comparação do coração de pedra e do coração humano. O ponto crucial é: a válvula que sintoniza a nossa vida com a do Outro não pode chegar até nós sem que o caminho seja aberto. Se os pedregulhos da estrada remetem ao endurecimento de ferros, tomemos cuidado para que não se torne atrofiado a ponto de enferrujar. Deixar o coração humano, que pulsa no compasso das batidas do Outro, é a coerência que nos constrange... Ele sempre nos transforma!


Totalidade, desde que tomei consciência de Deus, tornou-se uma das palavras mais desafiantes do meu vocabulário. Mas, embora diante de tantas renúncias e tantos desafios, temos a plena convicção de que vale a pena, pois nos deparamos com a face do Outro mais apaixonante.


Para manter uma relação de proximidade com o Senhor, aquela que muitas vezes nos embelezamos tão somente pelo teor de sentimentalismos que aderimos, basta uma coisa: querer. Desejarmos avançar em águas mais profundas para nos deleitarmos sob os mistérios do Outro abre um espaço fecundo para uma obra nova. Eis que o Senhor deseja fazer uma obra nova no meio do seu povo.


São Josemaria Escrivá é alguém a quem olho sempre com muito apreço. Segundo ele, “‘a oração’ é a humildade do homem que reconhece a sua profunda miséria e a grandeza de Deus, a quem se dirige e adora, de maneira que tudo espera dEle e nada de si mesmo”. Finalizo com a acertada convicção de que, para se chegar a um caminho de adesão, coerência, decisão e pertença, devemos estar dispostos a abraçar a causa da oração, que não é outra senão o Ouvinte e a nossa necessidade Dele.


É tempo de pedirmos ao Senhor coragem para olhá-lo seguir até Jerusalém para por nós tudo oferecer, e assim, unidos ao dizer do Papa Francisco: “[...] Ver Jesus caminhar decididamente para Jerusalém e pedir a graça de ter a coragem de segui-Lo de perto”.


“Nunca é demasiado tarde para nos convertermos, nunca, até ao último momento, mas é urgente, é agora! Comecemos hoje” – Oração do Angelus, 28 de fevereiro de 2016.


Por Tatiane Medeiros

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