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  • Foto do escritorProjeto Madre Teresa

O que celebramos com o Natal?


Caro leitor,


Alegria imensa de minha parte tê-lo aqui. Espero encontrar-lhe bem, ainda que deste outro lado da tela. Não imagino em qual cenário estejas lendo esta mensagem, e também não posso imaginar com qual pretensão chegastes até aqui. De todo modo, devo desejar-lhe, antes de tudo, nada de “Boas Festas”, mas um caloroso Feliz Natal. Minha principal intenção é poder tocá-lo com e sobre o sentido dessa festa majestosa através deste artigo.


Já tem um tempo que resolvi dar uma nova roupagem a este canal de comunicação, que de alguma forma, há alguns anos, serviu para depositar algumas das minhas reflexões filosófico-teológicas sobre a vida. Continuará sendo. Porém, desta vez, com mais precisão e mais drama na linguagem, fruto dos meus estudos recentes.

Bom, para pôr fim ao bloco da “acolhida”, repito: realmente, alegria imensa recebê-lo aqui, nessa espécie de “casa”.


Não posso imaginar como você chegou até aqui, mas posso pensar que em alguma medida se sentiu atraído pelo sentido tão misterioso e belo que o Natal nos proporciona, e ao menos curioso(a) para ler o que viria adiante. De fato… Há tanta riqueza, beleza, poesia, sentido e subversão na história humana com o Natal, que apesar de nossos olhos verem a festa acontecer, de nossos olhos contemplarem, de nossas línguas proclamarem, o sentido ainda não se esgota e nem se encerra. É um caudal imenso na vida humana.


Mas, bem... o que é a Festa do Natal? Que sentido nos traz? Por que tanta emoção e comoção nas celebrações?


Devo dizer que todo esse encantamento tem uma raiz: a Encarnação de Deus. Antes disso, a Revelação de Deus, tema constante dentro da Teologia. Não… Não são as luzes, não é o espírito de mais um ano chegando ao fim. Não são as demonstrações familiares, nem os amigos-secretos de toda reunião familiar. Não são os panetones, nem as novas roupas. Não!

Estamos falando que para nós, cristãos, o Natal está concentrado em carne e em osso, e Ele é uma Pessoa! Estamos falando que nasceu um Salvador descido do céu única e exclusivamente para inserir-nos em Sua vida.


De que “salvação” estamos falando?


Muitas vezes, ouvíamos quando crianças frases como “Jesus é o salvador da humanidade”, “Jesus me salvou da morte”, mas poucos de nós sabem de que tipo de salvação a Igreja está falando.


Quero ajudá-lo a entender o sentido aqui, nas próximas linhas…


Antes da vinda de Cristo, todos os homens já existentes jaziam na vida escura, obscura, na morte, na fraqueza das quedas e na falta de sustentação que a humanidade em si não pode proporcionar. Estávamos presos ao pecado. Nosso destino eram as feridas mortais dele. Mas o Verbo encarnado agora é capaz de devolver-nos esperança.


O entrelaçamento do homem e de Deus inicia-se com a Encarnação. É celebrando o Natal que recordamos que todas as linhas da humanidade convergem para um único sentido: Cristo Jesus. A partir daqui, podemos notar que a história da humanidade não teve um fim trágico, mas célebre: Deus e o homem encontram-se numa experiência de conhecimento mútuo.


Aliás, o Senhor já comunicava-se conosco, já se dava a conhecer, já nos permitia saber quem Ele era. Mas em Jesus nós agora podemos enxergá-lo. Nós trocamos olhares com o Menino Deus. Muito mais: nós trocamos um tempo com Ele - a eternidade veio no tempo morar.


Excedendo-se nas comunicações, o Senhor dá-nos o Unigênito para que O conheçamos de verdade. Nota-se que aqui tomamos uma certa atitude de espanto que nos faz de algum modo pálidos interiormente: como pode que um homem seja Deus? Como pode que Deus seja um homem?


Grande questão, não?


O ser de Cristo é saída, é êxito, é encontro. Deus encontra-se com o homem! Isso está para além de todas as emoções, está muito distante do mero simbolismo das luzinhas de Natal. Percebes que aqui reside um sentido muito maior e maestral que apenas as emoções dessa época do ano?


Aliás, vamos esquecer essa história de “época do ano”. Para a liturgia, a vinda de Cristo é um marco na caminhada cristã. É daqui que decorre todo o sentido do que celebraremos daqui a alguns meses. Todo o ciclo litúrgico conversa com as entrelinhas do nascimento de Cristo, que como eu dizia no início, é o ponto-chave de toda a Teologia: a Revelação de Deus.


É daqui que decorre o início e o fim de todas as memórias celebradas e vividas na Eucaristia. A ação redentora de Deus inicia-se aqui, precisamente aqui. O céu se faz terra. Deus querendo abaixar-se aos homens faz-nos cantar com ainda mais força e vigor, junto com os anjos: “Sanctus!


Antes de Cristo, tínhamos um modo distinto de ver a Deus, que estava no campo das comunicações visuais e em forma de linguagem falada. Agora, a linguagem é Ele mesmo. É o que muitos teólogos insistem em afirmar sobre o “inédito de Deus”.


Para o pessimismo do pecado e da corrupção a qual estávamos presos, nós estamos fadados a uma vida sem redenção. Mas Deus não vem para nos dizer isso. A sua vinda nada majestosa (naqueles panos de linho) nos diz o contrário: Ele entra no tempo. Ele agora caminha conosco!


Por isso, a Encarnação conota para a Teologia uma verdadeira “ocasião” especial, de modo que muitas coisas se concentram aqui justamente porque todo o mistério da vida humana começa aqui, com o nascimento de Cristo. O Logos abre as portas para dar um início e fim a todas as coisas.


O que nos difere de outras crenças que também devotam fé em deuses únicos é apenas uma coisa: o centro de todas as coisas, para nós, é Cristo Jesus. Ele é o revelado, é o centro da história, é o que se pode tocar cada vez que vamos a uma Eucaristia (noutra ocasião volto para escrever-lhe a relação entre Encarnação, Revelação e Eucaristia, caso faça sentido para você, leitor).


Então, sob o véu da humanidade, como diz a canção, agora vemos o rosto de Deus. Não naufragamos no curso da história como filhos da morte. Ele é a esperança! Não somente trouxe-nos a esperança, como é a própria esperança. O seu rosto humano, o rosto comum, o rosto imerso no tempo que subverteu toda a história, que potencializou a história dos homens, deu-nos a esperança que faltava para a vida. Ele deu-nos a vida!


Nas palavras de Bento XVI, “quando ouvimos ou pronunciamos, nas celebrações litúrgicas, este ‘hoje nasceu para nós o Salvador’, não usamos uma expressão convencional vazia, mas queremos dizer que Deus nos oferece ‘hoje’, agora, para mim, para cada um de nós, a possibilidade de O reconhecer e acolher, como fizeram os pastores em Belém, para que Ele nasça inclusive na nossa vida e a renove, ilumine e transforme com a sua Graça, com a sua Presença”.


A alegria que se vive e que se celebra nas noites dos dias 24 e 25 não se esgota nas quatro paredes das igrejas. Para algumas pessoas, pode parecer que sim. Mas para a Igreja, não. Essa alegria é o lídimo das nossas almas, é o cintilante dos nossos dias, é a luz que ilumina as nossas estradas, é a voz que nos convida a caminhar quando as frestas de luz das nossas vidas querem escurecer nosso caminho.


Como disse o tão poético Tolentino de Mendonça, o Natal é “anti abstração”. Pode ser tudo, menos uma festinha de aniversário para Jesus menininho no presépio. Como haveríamos de desejar feliz aniversário e “muitos anos de vida” ao Senhor do tempo, da história, ao Senhor de tudo? Vamos esquecer essa cultura popular. Honestamente - perdoem-me os escrupulosos -, parece-me brega demais.


O Senhor do tempo e da história trouxe-nos a eternidade. Agora, Ele veio no tempo morar. A eternidade agora faz parte do tempo, do mesmo modo que Deus agora feito homem encontra-se no tempo.


Com a Encarnação, a tenda de Deus agora é o coração dos homens, que começou naquela pobre e tão simples manjedoura. Nós, homens, agora com Deus podemos entoar uma mesma canção, a sonata da eternidade.


Devemos nós, caminhantes desta Terra, fazer subir a Deus um pedido: Kyrie, Eleison! Torna-nos pobres para imitá-lo, Senhor!



Um forte abraço.

Tatiane Medeiros.


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