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O paradoxo da dependência: a suave melodia da lógica cristã



Esta semana, tendo passado alguns dias de pura experiência de Deus (e sua santa providência), refleti sobre algumas breves dimensões da precisão de um coração humilde. Quero dizer, me pus a observar, na vivência feliz ou catastrófica dos dias que se passaram, a necessidade de um coração que reconhece a chave de resposta para suas inquietações, ainda que diante de situações temíveis, ou nem tanto.


Num primeiro caso, devo dizer que os insights em minha memória continuam a responder o temor do momento em que vi alguém muito querido quase (sem eufemismos) perder a vida. Não seria interessante, aqui, hoje, entrar nos mistérios da morte e seus impactos no coração cristão, mas somente fico com o relato da experiência de ter presenciado o momento desesperador.


Num segundo caso, pelo contrário, devo dizer do conforto, ou melhor, da segurança de saber que o coração necessitado não se basta, e por isso, rende-se a Outro – tão mais singelo é trocarmos a palavra para que não seja reduzida à dimensão de comodidades e paixões humanas, mas, na verdade, para que seja elevada à condição de encontro pessoal com o Tesouro.


A segunda ocasião é: num dia aparentemente comum, entre conversas produtivas com as minhas irmãs, resolvemos brincar com o famoso jogo de perguntas e respostas. Ele era um tanto quanto diferente, pois suas teses levavam em consideração os ramos psicológicos direcionados ao autoconhecimento. Foi uma cena interessante. Uma das fichas levantava a questão: “O que te deixa mais feliz?”


Naquele momento, mesmo tardando para encontrar resposta para as outras, pensei com mais agilidade ao responder a pergunta acima. Mentalmente, consegui listar alguns atos que me deixam satisfeita e feliz, como, por exemplo, comer um delicioso cannoli, investir o meu tempo em boas leituras, otimizar e oportunizar o meu tempo diário em atividades que me acrescem... uma série de outras tantas coisas.


Mas, naquele momento, por um mistério divino, respondi: “Rezar. Me deixa feliz, de verdade. Como nunca consigo sair tão feliz de qualquer lugar por onde entro, a oração consegue me arrancar um bom sorriso de felicidade plena”.


Naquele momento, o que me houve foi um reflexo dos dias que se passaram desde que descobri o tesouro da oração. Fiz memória das tantas (e eternas) vezes onde me vi sendo resgatada. Saía feliz, pois estava integrada. Onde pisava fragmentada, agora era reconectada ao Integrado. Onde chegava fracionada, me deparava com o Todo. Ali, então, acontecia um fenômeno de um autêntico descobrimento interior: aquela era a ação que mais me deixava feliz, dentre as tantas outras que poderiam ser listadas.


Com aquela breve resposta, liguei os pontos da primeira ocasião. O que me fazia pensar num fragmento interior, fracionado e desconectado, agora poderia encontrá-lo mais assegurado na sublime convicção que a oração nos proporciona.


Tive de relatar as experiências para dizer a conclusão das reflexões. É preciso reconhecermos que, uma vez encontrando dependência numa outra Pessoa, aí somos enlaçados na certeza de que somos livres. Dependentes, pois é essa a luz que a oração nos proporciona. Quanto mais chegamos abertos na oração, mais somos lançados no caminho de encontro com o Senhor; somos mais integrados, tanto mais percebemos que precisamos. Se na oração nós não percebermos que somos necessitados, é tempo de equilibrarmos nossas concepções. De algum modo, isso pressupõe um coração orgulhoso e soberbo.


E o reconhecimento da necessidade e da dependência não supõe um caminho fácil, não. Não é fácil e nem tampouco simples admitirmos, decididamente, que dependemos de um outro. Para alguém que acredita ser capaz de controlar tudo, salvar-se, saciar o seu vazio, não é fácil olhar para Outro e pedir ajuda. Se ela já tem tudo de que necessita, não há motivos que a façam buscar auxílio.


Aqui está o paradoxo. O homem vive, diariamente, encontrando em Deus a razão que o faça lembrar que ele sozinho não se responde. Sua antropologia crua e pura, sem que tenha Deus a responder suas inquietações, torna-se um estudo egoísta. Se o homem nega de onde veio, suas origens e sua criação, sua vida está comprometida. E, embora estudos e cientificismos facilitem o caminho para a resposta, nenhum deles será capaz de responder à pergunta: “O que te faz feliz?”


Pois bem, liberdade. Eis um caminho de paradoxos. Por esse mesmo motivo, torna-se ilógico. Mas, para nós que encontramos sentido, beleza, vigor e necessidade na oração, é mistério de Deus.


A questão do homem em Deus é muito cara e preciosa. A oração, um elevado grau de encontro das duas potências, é capaz de responder os anseios de todo e qualquer homem, de toda a humanidade. Por assim dizer, a oração torna-se um ponto de claridade, e ela não ofusca e distancia, mas aproxima e revigora.


A oração introduz no coração do orante que ele é dependente, pois só assim será livre. Livre para sonhar, viver e depender: necessitar. Precisar de alguém passa longe de permanecer fechado em si mesmo. Se assim o fizer, sua necessidade é falsa. Alguém que precisa, se abre; pede ajuda, suplica socorro. Muitas vezes, ao pedirmos um conselho, fazemos porque não sabemos lidar com a situação sozinhos. Por isso, imaginemos que exista um ponto de dúvida em nós. Se todas as vezes que as nossas dúvidas interiores surgirem e nós continuarmos a respondê-las por nós mesmos, que buraco enorme deve nascer no nosso coração... um grande e incoerente vazio.


Portanto, sim, a oração é o lugar para sermos livres. Felizes, misericordiados, apaixonados, necessitados, firmes. Além disso, verdadeiros. A sinceridade de coração é porta aberta para a liberdade interior. De forma tão bela, a graça da oração consegue nos proporcionar tamanha experiência.


Devo dizer, por fim, que a oração também é o lugar dos recomeços. Como filhos pródigos, saímos para vender os nossos bens todos os dias, e tendo experimentado os prazeres insaciáveis, voltamos à casa do Pai. Lugar de misericórdia, lugar de acolhida, lugar de permanência, lugar de fidelidade, lugar de integralidade. Onde o coração pecador encontra força maior que o pecado, que é o Amor.


Por fim, fico com a lembrança dos olhos de um cego. Eles, por sua vez, não são capazes de entregar respostas para cores, pois não enxergam. Esta razão é óbvia. Um cego sabe que é cego. Nós, pelo contrário, fingimos cegueira diante da necessidade que sentimos de Deus? “Somos cegos e nem sequer percebemos que temos essa doença?”, dizia Alice Von Hildebrand.

No coração do orante, a clareza e o grito interior são sempre: “Eu preciso do Vivente!”


Por Tatiane Medeiros

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