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Uma chave de leitura para a dimensão da vida



Não pretendo, aqui, entrar num âmbito propriamente teológico ou mesmo filosófico para mergulharmos mais a fundo na temática do post da semana. Acontece que, de forma muito singela e singular, já havia entendido sobre o que deveríamos tratar aqui hoje. Existe uma beleza ilógica na forma com a qual Deus revela seus desejos...


Era um dia comum. Atravessei o feed de postagens da rede social e logo me deparei com um tweet que me declarava às claras um comentário de concordância com aquele trecho da música: “Que a vida é mesmo / coisa muito frágil / uma bobagem / uma irrelevância”, composição de um célebre nome da MPB. Em síntese, em relação ao tempo que vivemos, o trecho se encaixa perfeitamente. Ou não, quase nada... apenas para aqueles que enxergam o mistério da vida dentro desta perspectiva é que pode parecer algo interessante e digno de concordâncias.


Claro, o contexto dos versos é outro bem diferente. Não espero tratar sobre a letra, mas somente a forma como chega aos nossos ouvidos e como é interpretada. Na rede social, repito, era uma declaração aberta sobre a vida ser mesmo uma “irrelevância”, e me parece que existe um certo apreço em cantar com mais entonação esta parte. Afinal, não há nada que se tirar de frutuoso, se, sem que nem imaginássemos, todo o cenário mundial de repente mudou. Não há nada de frutuoso a se tirar, se quando se olha ao redor, por vezes só se vê sofrimento. Não há nada que se possa comprovar que uma razão especial torne a vida leve e digna de ser vivida, relevante.


Bom, é o pensamento dos tantos que concordam com a interpretação. Hoje, espero trazer uma linha de compreensão diferente. Não, a vida não é uma irrelevância. “Por obra do destino” não acontece e não entra no vocabulário dos cristãos. Não existem coincidências. “A vida humana possui uma dignidade que a torna intangível”, já dizia o Papa Francisco. Com essa frase, gostaria de lembrar que um dos fenômenos do mundo hoje é a tal centralização. Um profundo egoísmo.


Que profundo egoísmo! Que grande soberba! Ainda há quem pense que é viver de verdade, ser livre de verdade. Não... que centralização humana que só nos faz parar num buraco sem fim. O homem se conduz. É o fenômeno do homem que decide o destino de vidas, por exemplo, nas práticas do aborto, da eutanásia, da contracepção...


Agora, muito mais do que um dia o foi (apesar de ser um problema das tantas gerações passadas), o homem torna-se seu próprio referencial. Sua verdade, sua certeza, seu limite, suas reflexões, seu achismo, sua composição, sua matéria humana. Seria qualidade de vida? O pronome possessivo nunca foi tão cabível: o homem tornou-se sua própria matéria e sua própria possessão. Aí, então, torna-se uma irrelevância e não tem para onde correr.


Vejamos o que diz João Paulo II na carta encíclica Evangelium Vitae: “Todas as vezes que a razão humana, querendo emancipar-se de toda e qualquer tradição e autoridade, se fecha até às evidências primárias de uma verdade objetiva e comum, fundamento da vida pessoal e social, a pessoa acaba por assumir como única e indiscutível referência para as próprias decisões, não já a verdade sobre o bem e o mal, mas apenas a sua subjetiva e volúvel opinião ou, simplesmente, o seu interesse egoísta e o seu capricho”.


O homem agora está perdido. Caro leitor, você entende por ‘perdido’ um sinônimo de ‘desencontrado’? Solto, vago, disperso, debilitado, não se conhece. Muitas vezes e em muitos lugares, acham ser isso um mergulho na alma e uma espécie de autoconhecimento. Arrisco dizer que é um autoconhecimento um tanto quanto infecundo. É uma espécie de caminhar em círculos, se é que me entende. Dá voltas e para em si mesmo. Faz rondas, mas atravessa a mesma linha da falsa liberdade.


Mas, para quem enxerga a vida por um outro lado, ela deixa de ser simplesmente “coisa muito frágil” para tornar-se especial demais. É a eleição de Deus sobre todos e cada um dos seus; é a preciosidade e a delicadeza do dom da vida manifestado nas terras humanas. É a flor que desabrocha com sementes de valor diferente. Somente um trabalho de artesão para lançar sementes tão misteriosas e tão cheias de verdade. É preciso mergulhar no aspecto da eleição para compreendermos o ponto. Deus, divindade e unicidade, nos escolheu e tornou-nos prediletos. Somos prediletos do Pai! Veja: fomos escolhidos. Alguém nos escolheu, ou seja, pertencemos a Alguém. Não nos deixemos levar pela visão individualista e que exclui Deus da vida humana.


A vida não é irrelevância porque ela faz parte, está inserida no plano divino. Plano divino* Muito, muito, muito mais sublime e cheio de sentido do que o plano humano e mundano. Plano divino envolve criação, e a palavra diz respeito ao que somente a perfeição de Deus consegue explicar: Deus é capaz de criar. O valor da vida não é relativo. Como o plano humano é capaz de dar sentido a isso? Jamais. Jamais. O homem não é capaz de criar a vida. Portanto, ele não é a resposta e nem o fim próprio.


Ainda trago a mensagem do Concílio Vaticano II: “Sem o Criador, a criatura não subsiste. (...) Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece”. “Diante da eternidade”. O Eterno. O Vivente. A semente e a flor. Criatura e Criador. Perfeita sintonia daqueles que entendem o que é viver. A vida é uma grandiosíssima expressão da bondade e da misericórdia de Deus, que nos traz para perto mesmo que caminhemos em águas distantes; nos acolhe num abraço de paz mesmo que a vida tenha sido tanta guerra. Nos refaz. Rasga-se. Encontra-nos. Grande amor da Trindade com o pecador! Entregar a vida nas mãos de Deus implica correr riscos. Mas que perfeita sintonia a daqueles que se aventuram nas águas impetuosos do Ser por excelência.


Por Tatiane Medeiros

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