Por sinal, a mais bonita singularidade. Você se deu conta do trocadilho da palavra, né? Singularidade é diferença em meio a tanto caos. Em meio às indisposições próprias do homem velho, desejar, decididamente, dizer sim às loucuras do Senhor é o que nos salva de um grande homem. E sim, nos torna homens novos.
Você já parou para pensar nas diferenças de boa parte das datas deste ano? Acredito que sim. Os efeitos do tempo de interiorização dele têm nos feito refletir bastante sobre inúmeras coisas... Ainda assim, queria te fazer lembrar que muito provavelmente nenhum de nós imaginaria viver o que hoje estamos vivendo. Nenhum de nós imaginaria estar transitando nas ruas da cidade e de repente ser tomado de uma força psicológica que nos diz que a qualquer momento, no contato com o outro, podemos nos tornar vítimas de uma pandemia. Pois é, não passaria pela cabeça de ninguém. Se deu conta da singularidade?
Nem eu e nem você imaginávamos viver uma quaresma como a que estamos vivendo. Singularidade de novo. Você também nem chegou a pensar que a semana mais importante seria vivida assim. Outra gama de reflexões que nós não faríamos ideia que se concretizariam de maneira tão repentina. Pois bem, continuo a dizer: singularidade.
Me parece que o que a maioria de nós anda esquecendo é que o tal clichê tomou mais força agora: é permissão de Deus. Sim! Permissividade! Singularidade expressa na Sabedoria.
Caro leitor, precisaria te ajudar a fazer memória e te dizer que Deus também se comunica no silêncio, e por sinal, que bonita comunicação. Abriria espaço para o frei Inacio Larrañaga falar muito melhor...
Ainda mais, preciso te dizer que um território livre também é singularidade. Escolher bem o agricultor da terra pode demorar uma vida inteira, mas feliz daquele que sabe que soube escolher na Vida e em vida em quem estava disposto a entregar todo o seu coração. Ah, sim, é trabalho de artesão mesmo. Há sempre quem saiba cuidar melhor que nós mesmos, o que continua sendo singularidade. Bonita, leve e humilde é a terra (do coração) que sabe escolher bem.
Você - hello - precisa lembrar: Deus não merece o que nos resta e nem deve receber de nós as sobras do nosso coração e da nossa vontade. Para entregarmos tudo o que temos e somos numa decidida aventura, precisamos desejar. Sim, desejar! A forma verbal me parece extremamente vaga diante de um coração que anseia despojar. Singularidade é coragem. Na arena da vida, arriscar-se é amar. E que beleza, não?
O homem velho que quer sempre ser maior em nós é colocado em segunda posição porque as aventuras do amor expressam: diante de Deus, pecado e morte foram vencidos. Lembre-se disso.
A liturgia do Domingo de Ramos é porta aberta para que façamos memória da unidade com o coração de Cristo que precisamos manter. Chegaremos à ressurreição com o Crucificado se antes tomarmos uma singular decisão: deixarmos morrer o que há de velho em nós. Frei Patricio Scialdini outrora nos alertou sobre tal verdade: “Não é possível ressuscitar se antes não se morrer”. Pois é... O povo que aclama Jesus como Rei faz memória da libertação da escravidão do Egito e é dela que nós também precisamos fazer. Decidir não voltar atrás é coragem, é arriscar o coração, é estar vulnerável. E que coragem a dos que escolhem bem, não?
Papa Francisco há alguns anos disse em sua homilia: “Esta celebração tem, por assim dizer, duplo sabor: é doce e amarga”. É o canto do Hosana que o povo canta e os algozes da Paixão. Ainda sim, que bonita singularidade a do Rei que escolheu assim expressar a firmeza dos que se aventuram no Amor.
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